Comunicação

O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você ....” A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. E fala só é bonita quando ela nasce de duma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na escuta que ele termina.
- Rubem Alves

 

 Comunicar-se é uma arte que exige sutileza, habilidade e sensibilidade. É uma tarefa tão complexa que se tornou ciência. Para os animais não há qualquer dificuldade, quando um cachorro grunhe para o outro, deixa clara sua insatisfação e o motivo dela. Nós, humanos, temos um conjunto sofisticado de códigos de interação, que exige não apenas uma leitura, mas uma interpretação. Expressamo-nos pela linguagem corporal, pelo olhar, pelo movimento facial, pela palavra, pelo tom ou altura da voz,  e até pelo silêncio.

 

Nem sempre somos coerentes ao dar sinais de comunicação. Às vezes dizemos algo que não reflete o conjunto de outros sinais que emitimos. Quando não conseguimos entender o que estamos sentindo, isto é projetado na interação com o outro, deixando-o, muitas vezes, confuso. Outras vezes queremos ocultar o sentimento e a contradição é exposta.

 

Comunicar-se tem por finalidade fazer-se entender. É uma arte que poucos conseguem desempenhar com destreza. Há pessoas muito habilidosas em perceber as expectativas alheias, e manipulam palavras para obtenção de efeitos e resultados planejados. Outras, despreparadas no exercício da expressão, sentem-se inadequadas e inseguras e recolhem-se na máscara protetora da indiferença ou da timidez. Há, ainda, aquelas que falam o que lhe vêm à cabeça, causando impactos e reações imprevisíveis nas pessoas.

 

Grande parte dos conflitos é gerada pelo conhecido “ruído de comunicação”. Isto porque nesta arte não há elemento passivo, pois o receptor acolhe os sinais codificados e utiliza-se dos recursos de descodificação por ele conhecidos,  de sorte que a mensagem é decifrada de forma singular. E nessa tradução entram valores, experiências de vida, traumas, esperanças e anseios, enfim, componentes subjetivos que interferem na clareza da comunicação. Não se sabe como o receptor vai receber o que está sendo transmitido, a mesma mensagem dada pelo mesmo emissor pode ser lida de forma diversa por diferentes receptores. Não há garantias de que seremos compreendidos.

 

Ao conhecermos uma pessoa, queremos entender suas características, personalidade e forma de ser. Sentimo-nos  desconfortáveis diante de pessoas que não se mostram, porque não sabemos como devemos nos relacionar com ela. Entretanto, é justamente a avaliação que fazemos do outro que cria desentendimentos, pois criamos falsas expectativas de como ele vai se comportar e de como devemos agir para sermos compreendidos. Perdemos, assim, a espontaneidade.

 

Há uma linha divisória tênue que dosa a comunicação saudável da destrutiva. Nem sempre expressar-se bem é falar demais, assim como o silêncio pode não ser omissão e ser interpretado como indiferença ou agressão. Neste exercício observa-se que a emoção, quando não educada, pode comprometer, corroer ou até destruir qualquer tentativa de entendimento. Agir movido pela emoção desequilibrada, pelo impulso, frequentemente acarreta supervalorização de uma situação ou episódio, que é visto a partir de uma outra experiência passada desagradável. Por outro lado, há quem procure  sempre agir raci0nalmente, esquecendo que o mental dissociado do sentimento pode trazer soluções estéreis para uma boa convivência, porque estão impregnadas de ideias pré concebidas inseridas na construção de nossa história de vida.

 

Sermos coerentes e verdadeiros pode ser o primeiro passo para uma comunicação bem sucedida. Quando estamos em harmonia e integrados em todas os aspectos transmitimos confiança para as pessoas, e o entendimento flui suavemente. É o conflito interno que nos desconecta de quem somos  e, em decorrência, do outro.

 

Quando padrões de comportamento e pensamento viciados se tornam conflitantes, não podemos perceber nossa forma de ver as coisas e nem as divergências internas, mas se isolar não é uma boa solução.

           

Em qualquer situação, é preciso deixar que a razão interaja com o coração, esse é um caminho promissor do entendimento tanto de si mesmo quanto do outro. Compaixão, paciência e amor são ingredientes de uma bem sucedida comunicação.